Mistura e Manda
Nº 18 - 06/10/2003
Encontros
Fagner conversou com
Zeca Baleiro depois dum show deste no Rio de Janeiro, depois eles voltaram a se
encontrar em Fortaleza e os papos evoluíram para parcerias, que eles agora
gravaram e mostram em turnê a partir do dia 1 de novembro, em Porto Alegre.
Como diz o cearense, é uma grande dupla... de três, já que
inclui o poeta Fausto Nilo, parceiro de Fagner de longa data.
Desta
forma, vai se mantendo viva uma tradição da música brasileira
- os encontros. Classifico assim a reunião de dois artistas que,
não sendo uma dupla fixa, grava um disco conjunto em estúdio. Por
que em estúdio? Porque, ao vivo, a tendência é fazer um disco
do tipo "os grandes sucessos de A e B, agora cantados pelos dois". Já
em estúdio, em geral se parte para um disco de inéditas, como este
e ainda Gil e Milton, Eu Não Peço Desculpa (Caetano
Veloso e Jorge Mautner), Miúcha e Tom Jobim, Moraes e Pepeu,
Tropicália 2 (Caetano & Gil)... Algumas vezes, como em Elis
& Tom, O Boêmio e o Pianista (Nelson Gonçalves e Arthur
Moreira Lima) ou Edu/Tom, o repertório é todo de regravações,
mas são aquelas tais exceções que confirmam a regra...
Os discos de encontros costumam nascer como cult - dificilmente chegam à parada de sucessos. Sempre foram uma exceção na indústria fonográfica. Creio que eles vêm do costume de gravação de dupla não-fixa muito comum no período do disco de 78 rpm, que tinha uma música em cada lado (os artistas de sucesso chegavam a lançar mais de um disco por mês). Ficaram na história as gravações de Francisco Alves e Mário Reis na Odeon (1930-32) e do mesmo Mário com Carmen Miranda na Victor (1933-34). A partir da alta-fidelidade, a coisa mudou de figura, afinal agora eram preciso 12 ou 14 músicas para fazer um LP. Os discos de encontros só voltam a aparecer, com freqüência, na Philips em meados da década de 1960 - comenta-se que isso se devia, em grande parte, ao elenco da gravadora ser tão grande que não havia estúdios disponíveis para todos...
(Fabio Gomes)
***
Alô, Alô, Carnaval!
Os
porto-alegrenses estão tendo uma oportunidade rara, de ver na íntegra
um filme brasileiro da década de 1930: Alô, Alô, Carnaval!,
filme feito em 1935 com as músicas para a folia de 1936. A fita, uma precursora
das chanchadas, foi toda restaurada, na parte de fotografia e de áudio.
O roteiro é fraquinho, dois autores (Barbosa Jr. e Pinto Filho) de uma
peça de teatro de revista tentam interessar um empresário (Jayme
Costa) a montá-la. Tudo, porém, dentro do espírito de rádio
filmado - a grande (e única) piada visual do filme envolve a palavra
bananeira -atenção nessa hora! Destaco ainda, no elenco,
a presença do grande Oscarito, em início de carreira.
Mas
com certeza o filme tem um grande valor histórico e preservá-lo
foi uma idéia excelente. Só assim podemos ver/ouvir Francisco Alves
(ele canta "Manhãs de Sol", que já era samba-exaltação
antes de "Aquarela do Brasil", além de ser do Rei a voz que dubla
Jayme Costa, na paródia de "Sonhos de Amor", de Liszt, num falsete
estranhíssimo e não-creditado), Mário Reis (só em
filme ele, com seu fio de voz, podia cantar "Cadê Mimi" circulando
entre as mesas!), Carmen Miranda sem estar vestida de baiana (ótima no
dueto final com a irmã Aurora, "Cantores do Rádio"), o
Conjuncto Regional de Benedito Lacerda (Dito é o único
sem uniforme!)... A baiana do filme é Heloísa Helena (não
confundir com a senadora!), cantando "Tempo Bom" no que foi o primeiro
play-back do cinema brasileiro. Curioso também ver artistas hoje
esquecidos, como as Irmãs Pagãs (lamentáveis!) e Luiz Barbosa
(excelente!). Todos os números são gravados para o filme, sendo
mais curtos e em andamento mais rápido que as versões em discos
Odeon e Victor lançadas na época.
Ah, ainda em tempo: Dircinha Batista está fantástica, parece que nasceu para cantar no cinema!
(F. G.)
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O pagode holandês de Mônica Tomasi
A cantora e compositora Mônica
Tomasi apresentou ao público um novo gênero musical, o pagode
holandês, em seu espetáculo na série Solo às Terças,
na Casa de Cultura Mário Quintana (Porto Alegre), no dia 30. O tal pagode
seria um tipo de samba levado no cavaquinho, acompanhado de pandeiro. No caso,
o pandeiro de Giovani Berti, que se revelou como cantor, fazendo coro no clássico
"Timoneiro" (Paulinho da Viola - Hermínio Bello de Carvalho)
e em um grande samba de Argemiro Patrocínio, da Portela, no qual tocou
ainda cuíca e agogô, sustentando com o pandeiro o dueto vocal no
finalzinho.
Giovani também foi responsável, de certa forma,
pelo grande momento do fim de tarde. Afinal, ele sugeriu a Mônica o título
do samba "Me Manda um E-Mail", simplesmente delicioso. Felizmente, pouco
antes desse número o microfone de Mônica foi trocado, o anterior
deixava sua voz abafada para quem estava na platéia - isso durante metade
da apresentação.
Mônica tocou algumas músicas
de seu espetáculo Varal (que retorna ao Teatro de Arena de Porto
Alegre de 17 a 19 de outubro) e outras do seu CD, que já está pronto
e será lançado em breve - além de fazer um momento Roberto
Carlos com "Você não Serve pra Mim" (Renato Barros), em
que deu bastante peso roqueiro ao violão, acentuando bem o compasso 4/4,
enquanto a voz fazia uma levada de bolero.
(F. G.)
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